Em Cascais mora o Robin dos Bosques invertido

A maioria dos moradores em Cascais, sobretudo aqueles que vivem nas localidades do interior e que conseguiram comprar uma fatia de terreno para nele construírem as suas casas de família, sabem das tormentas que passaram. Primeiro para que a Câmara lhes legalizasse os terrenos e depois conseguir as autorizações de construção e habitação. Claro que ninguém se esqueceu das tormentas que passaram, dos anos de vida que empenharam e das fortunas que, por tudo e por nada, lhes foram exigindo para que pudessem seguir em frente na concretização do sonho.

Mas, sabemos todos, o Inferno que se faz para quem não nasceu bafejado pelo conforto das contas gordas nos bancos, ou das brutais dividas que a folgar neles podem contrair sabendo que outros lhas vão pagar, para estes todo o mundo é seu.

Na reunião da Câmara de Cascais de hoje, 14 de Janeiro, foi aprovado isentar do pagamento de compensação um promotor imobiliário que vai construir um hotel de 4 estrelas junto à Avenida Marginal, entre o Hospital José de Almeida e as Residências do Grupo Mello, na Parede.

Robin-dos-Bosques
Parede

De acordo com o Regulamento Municipal em vigor, para construir o empreendimento o promotor teria que entregar à Câmara 11.914,69m2 de terreno destinado a equipamentos de utilização colectiva e espaços verdes. Porém, em condições excepcionais, pode a Câmara determinar que, em vez dos terrenos destinados aos fins referidos, os promotores os compensem com o pagamento dum valor equivalente em numerário. Foi o que a seu tempo o promotor veio pedir e a Câmara prontamente acedeu, estipulando-lhe o valor da compensação em 2.553.503,36€, ou seja, 214,31€ por cada m2 de terreno que assim, passou para si em vez de ir para a Câmara.

Convém que se diga que por este preço ninguém consegue comprar terrenos nesta zona. Numa simples prospecção a lotes disponíveis na Parede, verificamos que, p.ex. um terreno localizado no interior da Vila, logo com muito menos valor que este junto à Marginal e com vista privilegiada para o mar, está à venda por 1.965,70€/m2. Se se aceitar tal valor como “razoável” e o aplicarmos à área que Câmara devia receber na compensação, então os nossos 11.914,69m2 valem a “módica quantia” de 23.420.696,70€ !

Milhões a que, decerto tendo em conta a “relevância” do hotel que tanta falta faz a Cascais, o PSD e o CDS, que mandam na Câmara, decidiram conceder um desconto especial, fixando-o nos já referidos de 2.553.503,36€.

Ainda não satisfeito com a generosidade, o nosso “empreendedor” voltou à carga e veio pedir que, não já em vez da entrega do terreno, mas desta feita do dinheiro, a Câmara lhe aceitasse a apresentação a posteriori dum certificado em como na construção e exploração do empreendimento iria aplicar as melhores práticas ambientais.

Como esforçados amigos do ambiente que todos sabemos que são, Carlos Carreiras, Pinto Luz e Cª, obviamente responderam que sim: a compensação passou a nada, zero em terreno e outro tanto em dinheiro.