Transportes gratuitos em Cascais, quem os paga?
Através duma massiva campanha de propaganda que mobiliza jornais, rádios e televisões, os portugueses em geral e os Cascalenses em particular estão a ser informados duma “inovadora medida em matéria de transportes”: a gratuidade do transporte rodoviário em Cascais.
Sabendo-se que quem vive aqui mas tem que sair do concelho para trabalhar em Oeiras, Sintra, Lisboa e também quem vem de fora para trabalhar ou passear em Cascais, continuará a gastar o mesmo que já pagava pelo Passe Social Intermunicipal, sempre exigível na origem ou no términus do trajecto, quantos são, afinal, os munícipes de Cascais agraciados com o “transporte gratuito” ?
Para medir o alcance social e ambiental da “revolucionária medida”, face ao custo financeiro a suportar, não deveria a Câmara informar-nos acerca do número de passageiros que utilizam actualmente o transporte rodoviário colectivo e quantos mais se estima que a curto prazo o venham a usar em substituição do automóvel individual ?
O que entretanto sabemos é que pela “borla” a CMC vai pagar um milhão de euros por mês à Scotturb, empresa que além do péssimo serviço que presta aos passageiros, da pouca consideração que tem pelos seus trabalhadores, também é o maior poluidor ambiental do concelho, sem estar previsto que vá deixar de o ser.
Alguns munícipes, aqueles que por exemplo moram em Alvide ou na Amoreira e semanalmente vão ao Mercado da Vila fazer compras, têm motivos para estar contentes.
Do que não temos dúvidas é que muito mais contente que todos os residentes em Cascais está a Scotturb com os doze milhões de euros por ano que lhe estão garantidos, transporte ou não passageiros, cumpra ou não cumpra horários.
Milhões que a generosa CMC vai pagar com o muito que nos cobra através dos impostos, tarifas e taxas que mais ninguém os paga tão altos em Portugal.
Para que não restem dúvidas, enquanto Vereador do PCP votei a favor da gratuidade dos transportes colectivos rodoviários de passageiros em Cascais, na perspectiva de que o investimento seria para resolver problemas reais de mobilidade que afectam a maioria da população, e não para fazer de conta e deitar fora o dinheiro que é de todos nós.
A CMC é detentora duma “mistificação de empresa” de transportes rodoviários de passageiros, que dá pelo pomposo nome de Mobi Cascais que opera meia dúzia de carrinhas em trajectos que servem a muito pouca gente e que, por isso, circulam praticamente vazios.
Porque não investe a CMC os 12 milhões de euros na empresa municipal e se ataca o problema local, mas inserindo o sistema local na solução partilhada por todas as demais câmaras da Área Metropolitana de Lisboa?
É dessa solução que o PSD, o CDS e Carlos Carreiras se querem manter desalinhados. A nós que os conhecemos, não nos custa a perceber porquê.