Como habitante de Cascais conhecendo-o de uma ponta a outra, tendo sido Presidente da Assembleia Municipal e Vereador da CMC durante vários mandatos, responsável pelas questões de ambiente, estudei ente Concelho de uma ponta a outra. Venho hoje falar da sua biodiversidade, em especial nas zonas  da Peninha e Malveira da Serra até à praia do Abano.

Trata-se de uma zona extraordinária pela beleza e pela sua “Biodiversidade notável” e de grande importância,  e pela potencialidade turística, mas que tem sido desprezada e destruída, pelos empreendimentos urbanísticos e até pelos fogos.

A  diversidade de condições ecológicas, rochas : de granitos a gabros e basaltos,  calcários e até mármores e areias dunares , as diferentes exposições  e efeitos dos usos dá a esta zona uma beleza extraordinária, junto com a diversidade biológica de enorme interesse.

Mas a ignorância e o abandono, para além da especulação imobiliária e os fogos como aconteceu mais uma vez em 2019,  acompanha nesta terra tudo o que não conduza de forma imediata ao lucro.

A situação ao longo dos séculos está muito bem descrita pelo meu sogro e mestre Botânico e investigador da Estação Agronómica Nacional (em Oeiras) que as estudou em pormenor desde Sintra até Cascais.

Dizia ele: “Árvores e arbustos, ainda que admiráveis na sua vital teimosia em persistir num domínio que sempre fora o seu, tiveram de resignar-se a ocupar apenas os recantos mais magros que não interessavam aos arados e aos rebanhos mas tão só para lá se ir buscar o lenho para a trave, o arado e a roda, o cepo para o lar, e também a caça cada vez mais difícil e arisca”.

Apesar de  tudo, da intervenção do homem (agricultor e pastor) ainda restam alguns pinheiros mansos  (Pinus Pinea)  e pinheiros bravos (Pinus pinaster), e ainda  o que resta do bosque de aroeira (Pistacia  lentiscus), de zimbro (Juniperos phoenicea ), de carrascal  (Quercus coccifera ) e ainda alguns resquícios  do antigo carvalhal (com muito raro carvalho cerquinho  – Quercus faginea, . …)  cada vez mais raro.

Fig. 1 – Carrascal perto do Abano
Fig.1 – Carrascal perto do Abano

No entanto ”o mais representativo” da vegetação primitiva é o carrascal da charneca – um carrascal agreste mas florido (fig. 1) em que brilham os amarelos e roxos  dos lírios.

Fig. 2 - Íris Lusitânica
Fig. 2 – Íris Lusitânica
Fig. 3 - Íris subiflora
Fig. 3 – Íris subiflora

No entanto ”o mais representativo” da vegetação primitiva é o carrascal da charneca – um carrascal agreste mas florido (fig. 1) em que brilham os amarelos e roxos  dos lírios.

(Fig. 2 e Fig.  3 – Íris Lusitânica e  Íris  subiflora) e  a multidão de orquídeas  bravas   lindíssimas.

 

Algumas orquídeas bravas  como a belissima Anacamptis pyramidalis; a Ophrys fusca; Ophrys  lutea ou a Barlia robertianam.

A pergunta que nos cabe fazer é:

Como conservamos os ecossistemas importantes para a Biodiversidade, como a estamos a proteger e a cumprir os objectivos da Declaração de Berlim, em  8 de Março de 1997  sobre “BIOLOGICAL DIVERSITY AND SUSTAINABLE TOURISM” assinado e ratificado por Portugal?

Em especial como respondemos ao parágrafo 16 da referida declaração.

“Tourism should be restricted, and where necessary prevented, in ecologically and culturally sensitive areas. All forms of mass tourism should be avoided in those areas. Where existing tourism activities exceed the carrying capacity, all efforts should be made to reduce negative impacts from tourism activities and to take measures to restore the degraded environment” 

Ou ao parágrafo 17?

“Tourism in protected areas should be managed in order to ensure that the objectives of the protected area regimes are achieved. Wherever tourism activities may contribute to the achievement of conservation objectives in protected areas, such activities should be encouraged and promoted, also as cases to test in a controlled manner the impact of tourism on biodiversity. In highly vulnerable areas, nature reserves and all other protected areas requiring strict protection, tourism activities should be limited to a bearable minimum. 18. In coastal areas all necessary measures should be taken to ensure sustainable forms of tourism, taking into account the principles of integrated coastal area management. Particular attention should be paid to the conservation of vulnerable zones, such as small islands, coral reefs, coastal waters, mangroves, coastal wetlands, beaches and dunes.

O que estamos a fazer para preservar o miosótis das praias e a Cocleária menor Endemismoss Sintrano, espécies em elevado risco, dos Anexos II e IV da Directiva 92/43/CEE, e da Convenção de Berna?

Fig. 5 – Miosótis da praia -Ionopsidium kuzinskyanae
Fig. 5 – Miosótis da praia -Ionopsidium kuzinskyanae
Fig. 5 – Miosótis da praia -Ionopsidium kuzinskyanae e Cocleária menor
Fig. 5.1 – Miosótis da praia -Ionopsidium kuzinskyanae e Cocleária menor

 

 

 

 

 

O que estamos a fazer  na zona do Parque Natural para preservar este património vital, se nem evitamos que arda como aconteceu no passado.

Mas o que ardeu?? Foram os matos pinhal de alepo, acácias, alguns eucaliptos e zonas ajardinadas e isto numa Área Protegida repleta de exóticas  e zonas urbanas.

Porque ardeu uma área Protegida – PARQUE NATURAL SINTRA-CASCAIS?

Porque arderam matos rasteiros, e exóticas invasoras???

Como foi possível com centenas de bons bombeiros operacionais deixar atingir tal proporção.

Como é possível existirem exóticas , invasoras  em tal proporção num Parque Natural e em REDE NATURA 2000?

Fig 6 – O que ardeu marcado a vermelho
Fig 6 – Áreas ardidas assinaladas a vermelho

Mais imagens do fogo- (aproximadamente), foram matos, pinhal de alepo, acácias, alguns eucaliptos e zonas ajardinadas  das vivendas.

Fig. 7 - Áreas em fogo
Fig. 7 – Áreas em fogo

Eugnénio Sequeira

  • TAGS
  • Biodiversidade
  • Declaração de Berlim
  • Parque Natural
  • REDE NATURA
Facebook
Twitter
Pinterest