UM AEROPORTO EM CASCAIS, A QUEM INTERESSA?
Está a decorrer, até 23 de Fevereiro, o prazo de apreciação pública do Plano de Urbanização para a Área do Aeroporto de Cascais (PUACE), plano que, em nome da “segurança do Aeroporto”, esconde uma norma a impor desmedidos condicionantes no uso dos terrenos e das habitações localizados numa área dita de protecção, os quais, entre outras, deixam de poder serem transacionadas livremente.
Tal norma proíbe as operações de loteamento, a realização de obras de urbanização, de alteração, ampliação ou reconstrução nas habitações e terrenos privados.
A culminar o “cuidado” com que esta gestão autárquica trata os munícipes que não fazem parte do seu restrito círculo de interesses, o PSD e o CDS, com o beneplácito do PS que não se opõe, a Câmara impôs, pela “calada”, o direito de opção a seu favor sobre as propriedades, terrenos e habitações, localizados no chamado “perímetro de segurança”.
Aqueles que não suportem mais viver nas novas condições de funcionamento do aeródromo, que passou a ”Aeroporto”, e queiram sair dali, só vão conseguir desfazer-se das propriedades recebendo o valor que a Câmara lhes quizer pagar.
Este processo, claramente atentatório dos direitos e interesses dos milhares de residentes nos bairros localizados junto do aeródromo de Tires, começou há anos, com a revisão do Plano Director Municipal (PDM), elaborado sem que fosse desenvolvido qualquer processo da tão apregoada “democracia participativa” que possibilitasse aos munícipes saber como estavam a ser tratados os seus interesses.
Infelizmente, mais em particular quem vive em Tires e S. D. Rana, só agora estão a dar-se conta dos malefícios que os responsáveis pela gestão dos destinos da Câmara, o PSD e CDS, lhes andaram a arquitetar.
Face ao inesperado aumento do tráfego aéreo, à já verificada perda de qualidade de vida imposta pelo ruido dos motores dos jactos a passar sobre os telhados, que aterram e levantam voo paredes meias com as suas casas, largando toneladas de gases de exaustão altamente perigosos para a saúde, temendo pela segurança dos bens e das próprias vidas, os moradores nos bairros próximos do “Aeroporto de Cascais”, em Tires, estão a manifestar-se contra esta “menina dos olhos” do PSD e CDS, com a bênção do PS que nunca se opôs aos propósitos de Carlos Carreias e seus amigos.
Mas, será que Cascais necessita de um Aeroporto no seu território? Para quem?
O propósito de Carlos Carreiras e dos seus seguidores é o de trazerem para Tires todo o movimento de aviação executiva privada, de todos os jactos que até agora utilizam o Aeroporto de Lisboa.
Não é, pois, a pensar na possibilidade dos munícipes de Cascais passarem a voar a partir de Tires para outros destinos aquilo que está a mover o PSD e CDS. O que os move é a melhor “mobilidade”, o conforto e outras vantagens que vão proporcionar a alguns privilegiados que, aterrando e estacionando em Tires os seus aviões pessoais, vão aqui pagar tarifas muito mais baixas que as que que lhes são cobradas no Aeroporto de Lisboa.
Para que não nos debrucemos demasiado sobre as consequências de termos um Aeroporto à porta, para que não pensemos nos muitos inconvenientes e perigos do aumento do numero de aviões a passar-nos por cima das nossas casas, Carlos Carreiras, Pinto Luz e amigos empenham-se para nos convencerem da bondade da coisa, não poupando meios de propaganda, paga com muito dinheiro do nosso bolso, para quase só nos dizerem que o “Aeroporto de Cascais” até constitui um importante factor de geração de emprego qualificado. Dando, apenas, o exemplo da actual escola de pilotagem que “até já tem encomendado dois novos simuladores de voo para receberem mais alunos”.
É verdade que a escola de pilotagem constitui, quanto a nós, a mais importante mais-valia instalada. Escola que lá pode continuar e até ser ampliada, sem que isso dependa do alargamento das competências que o Aeródromo de Tires já tinha. Segundo especialistas, o acréscimo de utilização da pista para favorecer o tráfego de aviões privados pode, até, constituir-se num obstáculo à expansão da escola de pilotagem.
Se fosse genuína a preocupação de Carlos Carreiras com a criação de empregos e de riqueza no concelho, façamos nós o exercício de imaginar aquilo que poderia construir-se nos cerca de 200 hectares que o “Aeroporto de Cascais” ocupa em Tires.
Imagine-se, p.ex., o Parque Tecnológico, implantado numa área cuidada também para ser zona verde, que privilegiasse a instalação de indústrias limpas das novas tecnologias (o 5G está a aí para reinventar tudo), em vez do “Aeroporto”.
Quantas empresas de escala mundial nos iriam procurar para se sediar no “Parque Tecnológico de Cascais”, pagando aqui centenas de milhões de euros em impostos? Quantas dezenas de milhares de postos de trabalho qualificados se criavam para assegurarem um melhor futuro às gerações de jovens que agora são mandados emigrar?
O que sabem os cascalenses é que são eles mesmos, com o dinheiro das taxas, tarifas e impostos que pagamos à Câmara, mal governada pelo PSD e CDS, quem suporta o conforto e o benefício duma imensa minoria que pode tudo, até voar em avião privado.
Num tempo em que, em nome da preservação do ambiente, da qualidade de vida e da própria segurança das aeronaves, em todo o mundo cada vez se impõe mais a consciência da necessidade de deslocar os aeroportos para locais distantes das áreas urbanas, alegremente (?) Cascais avança no sentido contrário. Porquê?
Serão os autarcas do PSD, do CDS, e do PS que na Câmara e na Assembleia Municipal ora se abstêm ora votam de acordo com os primeiros, mais informados, mais prevenidos e inteligentes que todos os outros pelo mundo afora?
O que estes autarcas de olho cúpido têm em quantidade é uma oca e desmedida vaidade, que para ser satisfeita precisa de exibir constantemente que eles sim é que são excelentes, que eles é que estão acima e vão à frente do mundo, propagando sem cessar que cá, onde eles podem e mandam, até têm um “Aeroporto”.