Cascais, onde para viver se paga demais

 

Quando vamos ao supermercado ou a uma qualquer loja de roupas ou calçado, imediatamente nos apercebemos que, aqui em Cascais, precisamos de despender mais do que gastaríamos pelos mesmos artigos se vivêssemos noutro dos concelhos próximos.

Se a isso juntamos o custo de habitar, então sim, viver em Cascais é mesmo “um luxo”. Desde logo porque quem aqui precisa de comprar casa tem de pagar, a preços de Setembro, a “módica quantia” de 3.304€/m2, ou 248.000€ por um apartamento T2, enquanto pelo mesmo fogo em Oeiras pagaria menos 23.000€, em Loures 100.000€, em Almada menos 102.000€ e em Sintra 131.000€.

Se quem vive de trabalhar já arrumou de vez a possibilidade de comprar casa em Cascais, alugar também está fora de questão.

Em média, o aluguer do mesmo T2, que em Sintra custa 472€ por mês, custa em Cascais 767,00€, valor este que representa 66,3% do salário médio mensal (1.156,30€) que as empresas no concelho pagam, enquanto em Oeiras (1.740,20€) a taxa de esforço é de 42% e em Sintra (1.180,00€) de 40%.

Além da prestação pela compra ou pelo aluguer, ainda outros factores de custo da habitação pesam mais aqui que nos outros concelhos, a começar pela factura da água, sem dúvida a mais cara do país e uma das mais altas da Europa.

Em termos absolutos, depois de Lisboa, Cascais é também o município que a nível nacional mais receita arrecada em IMI, mercê duma das taxas (0,35%) mais altas na Área Metropolitana de Lisboa, conjugada com os factores da Lei que determinam as majorações fiscais. No final do corrente ano, só neste imposto, a Câmara estima arrecadar 51 Milhões de euros, que representam cerca de 25% do total das receitas correntes.

O elevado custo de habitar em Cascais, explicado entre outros factores pela pressão turística, pelo aumento na atracção de estrangeiros de classes média e alta e pela desmedida especulação imobiliária, têm resultado numa intensificada gentrificação, que está a empurrar para as periferias gentes de cá naturais ou residentes há mais tempo, ditando o encerramento de lojas tradicionais e pequenos negócios locais, a morte de associações culturais e cívicas, com profundos efeitos ao nível social, político, urbanístico e cultural.

 No fundo, é o carácter identitário, a alma das comunidades locais, que definitivamente se está a perder.

A Câmara de Cascais é recordista nacional entre as que mais se governam com os valores directamente pagos pelos munícipes, através de taxas, tarifas e impostos, que sustentam 89,65% de todas as receitas, sendo menos de 11% a que advém do Orçamento do Estado central.

Não é por isso de admirar que Cascais seja das Câmaras mais ricas de Portugal. Pelo que tira aos seus munícipes mas também pelo que não sabe gastar para desfazer problemas que a todos nos afligem. Temos um dos piores sistemas de mobilidade em toda a Área Metropolita de Lisboa, com uma mais que deficiente rede de transporte colectivo rodoviário, que obriga a maioria da população a deslocar-se em carro próprio, através de estradas mal planeadas, apertadas e mal cuidadas.

Quanto à habitação social, a falta “oficial” de fogos é superior a 1.500 pedidos, com famílias demonstradamente carenciadas em lista de espera, em muitos casos, há mais de 10 anos.

Em matéria de saneamento, onde também somos campeões no que respeita ao que pagamos em taxas, continuamos a deparar-nos com graves problemas de saneamento básico, impróprios numa qualquer urbe no Sec. XXI, com um número incalculado de fogos a vazar esgotos para fossas e ribeiras que os vão despejar ao mar. Por razões de saúde pública, as praias, que já foram ex-libris de Cascais, são frequentemente interditas a banhos.

Mas, “competentemente”, a Câmara gerida por maioria PSD/CDS, chefiada por Carlos Carreiras, não se coíbe de apregoar a “excelente saúde” das suas contas, mostrando, p.ex. no último exercício encerrado (2018) que entre aquilo que recebeu e o que conseguiu gastar, sobraram 45 Milhões de euros que, se fossem devidamente aplicados, tinham resolvido de uma só vez boa parte dos problemas reais do território.

Se em Carlos Carreiras, e na sua equipa, alguma modéstia morasse, reconhecendo a por demais evidente inaptidão de governarem Cascais com o muito que os 84.000 agregados familiares do Concelho são obrigados a pagar à Câmara, deixariam ao menos ficar no nosso bolso os 537,71€ que num só ano levaram a mais e que não foram competentes para nos devolver em obras e bem-estar.

Clemente Alves