A Economia do Natal
Agora que entrámos em dezembro a quadra natalícia já ocupa muitas ruas e conversas e a magia toma conta de miúdos e graúdos. Não tão mágico assim é uma grande parte da indústria que se transforma e multiplica ano após ano em torno do consumo da época natalícia.
Um estudo recente da Deloitte regista que este ano cada família portuguesa prevê gastar no Natal em média 387€, uma variação de mais nove euros face ao ano anterior e metade do valor atingido antes da crise. Entre outros dados, o mesmo estudo retrata também uma evolução crescente das compras online, com um quarto das compras de Natal a acontecerem por esta via.
Mas falar de Natal, implica falar também de um conjunto de atrações, feiras, mercados e eventos muito diversos para todas as idades e que procuram atrair a atenção dos consumidores atendendo à magia da época: a neve, o pai natal, o frio, tudo são excelentes motivos para as mais diversas iniciativas.
Os últimos dias estão marcados pela polémica em torno de um destes eventos, a Capital do Natal, em Algés e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras. A somar aos preços perfeitamente desajustados ao orçamento de uma família comum, as condições e as atrações deixam muito a desejar às centenas de visitantes que estiveram no espaço nos últimos dias. Para entrar as crianças entre os 3 e 12 anos e seniores pagam 25€ e os restantes pagam 30€. Para este evento a Câmara Municipal atribuiu um apoio à empresa organizadora de 345.000€, apesar de estabelecer um conjunto de contrapartidas, nomeadamente 10.000 bilhetes a título gratuito para distribuir no concelho.
Já em Cascais, decorre este ano a 4ª edição do Cascais Christmas Village. O evento, que encerra o Parque Marechal Carmona ao público por mais de um mês, conta com um apoio da Câmara Municipal de Cascais de 203.000€, sem quaisquer contrapartidas que não sejam as de marketing inerente ao evento. Neste evento crianças entre os 3 e 11 anos e seniores pagam 6,50€ e a partir dos 12 anos todos pagam 7,50€.
Eventos diferentes e valores de entrada igualmente diferentes, mas, ainda assim, impeditivos para muitas famílias da região. Em que medida deveria o poder local contribuir com financiamento público para eventos como estes com bilheteira? Afinal de contas, só alguns poderão usufruir e para isso ainda contribuirão significativamente com o bilhete de entrada.
O Natal, essa época de partilha e comunhão, está cada vez mais dominada por lógicas comerciais e consumistas, onde pouco importa quem tem ou não disponibilidade financeira.
Valha-nos a Wonderland Lisboa – e outros bons exemplos – onde está garantida animação e muitas brincadeiras com entrada gratuita para todas e todos.