O associativismo e a revitalização dos núcleos urbanos

O associativismo nasceu no seio das diversas comunidades como um meio para dar resposta às dificuldades e expectativas das populações sendo essa a sua verdadeira essência e marca distintiva.

E cada período da história teve a resposta à altura por parte destas agremiações.

No passado recente recordemos a título de exemplo:

  • Que na segunda metade do século XIX, o que impediu que mais portugueses fossem dizimados pela febre-amarela foram um conjunto de Associações Mutualistas de Assistência Social criadas na altura.
  • Durante a 1.ª República as Associações colaboraram de forma importante na educação popular, nomeadamente em meios operários, facto que esteve na origem de inúmeras escolas primárias criadas por organizações populares e sindicalistas.
  • Já no período denominado de Estado Novo, participar activamente numa qualquer agremiação era uma forma de resistir à ditadura, partilhando ideias e dinamizando as mais diversas iniciativas cívicas.

Olhando para a sua origem e para a sua preponderante participação e envolvimento ao longo dos tempos, podemos considerar que a evolução dos movimentos associativos esteve sempre intrinsecamente correlacionada com a evolução sociopolítica da sociedade.

Outra característica distintiva destes movimentos assenta nos valores que representam em cada uma das suas acções: solidariedade e fraternidade; independência e autonomia; democracia e cidadania, quase sempre, na generalidade dos casos, em regime de voluntariado.

Feita esta introdução histórica qual é o ponto de contacto entre este intróito e a revitalização dos núcleos urbanos?

Porque na minha opinião, quem olha para os núcleos urbanos e procura vislumbrar uma estratégia, um rasgo que permita potenciar a economia local ou relançar o espírito e a importância de uma vivência em comunidade, não o poderá fazer sem ter como motor dessa transformação o associativismo.

Reconhecendo que por este concelho fora existem diversos núcleos urbanos desertificados a partir de determinada hora e onde outrora havia vida hoje há um vazio, onde havia segurança existe desconforto e receio, onde havia comércio activo crescem os espaços fechados.

Onde “ontem” se ouviam as crianças a brincar na rua e havia um verdadeiro espírito de vizinhança e de comunidade hoje vivemos, salvo raras excepções, fechados entre as 4 paredes das nossas casas, enclausurados como se cada casa fosse um condomínio individual e intransponível, reduzindo ao mínimo as suas interacções com os demais elementos da sua comunidade.

Quantos de nós, que fizemos parte substancial do nosso crescimento na rua, ambiciona ter esse espaço de volta?

Uma perspectiva de comunidade, onde olhamos uns pelos outros, onde sabemos que temos com quem contar. Onde não estaremos sós.

Como podemos regressar a esse passado não tão distante?

Num concelho marcado por desequilíbrios urbanos, com um nível de desenvolvimento assimétrico, asfixiado pelas questões da mobilidade interna e com políticas locais conducentes à desertificação dos núcleos urbanos (onde a partir de uma determinada hora não se vê vivalma), parece à partida que o espírito comunitário poderá estar condenado.

Numa sociedade, onde cada vez mais temos menos tempo uns para os outros, onde está o ponto de inversão?

Enquanto actor político tenho defendido ao longo dos anos, na relação que vou desenvolvendo com diversos intervenientes das forças vivas do nosso concelho, que anseio por um outro Cascais…

Conto muitas vezes a confusão que me faz o “fechar porta”, quando no dia a seguir os meus filhos vão transpor a mesma e interagir com o que está lá fora. Cada casa já não é parte de um bairro, é um condomínio fechado em si mesmo. Não há relação, não há conhecimento, não há interajuda.

Como habitualmente faço questão de sublinhar, anseio por um Cascais diferente multiplicado ao valor das suas gentes, do seu capital humano e histórico.

E para isso devemos recuperar a identidade dos diversos núcleos urbanos e mais do que falar de regeneração urbana devemos olhar para a componente de revitalização urbana.

E qual pode, no meu entender, ser o pilar dessa revitalização?

A resposta parece-me simples – o associativismo e cada um de nós enquanto intervenientes locais.

Acredito que através das associações poderemos intervir e ajudar a transformar a nossa rua, os nossos bairros, o nosso concelho.

No limite a força e dinamismo dos diversos tipos de associativismo caracteriza um país e a sua capacidade de resposta perante as adversidades.

Se assim é, passemos então na concepção das políticas públicas locais a considerar o Associativismo como um verdadeiro parceiro estratégico da nossa acção ao invés de o remeter, como tantas vezes acontece, para um papel menor de subserviência e dependência financeira.

(desenvolverei esta temática num futuro artigo)

Luís Miguel Reis